Um dia, perguntei para o
psiquiatra: sou bipolar? Ele me disse: de bipolar você não tem nada.
Você é sincera e tem sentimentos intensos, vive intensamente. E me
explicou a origem da palavra sincera, que vem do latim e significa "sem
cera". Antigamente, carpinteiros e escultores usavam cera para
disfarçar os defeitinhos de esculturas e móveis de madeira. Então, eles
lixavam, passavam verniz e tudo ficava aparentemente perfeito e em
ordem. O aspecto das peças era magnífico. Com o passar do tempo, do
frio, calor e uso, a cera ia se desmanchando e os defeitos iam ganhando
vida. Sinceridade é "sem cera", ou seja, sem máscaras, sem retoques, sem
querer ser o que não é. Achei bonita a explicação dele. E triste. Dói
ser "sem cera".
A vida maltrata quem sente demais. Quem sente
demais acaba sofrendo mais que a maioria das pessoas. Tudo importa, tudo
é exagerado, tudo é sentido de corpo e alma. Alma, principalmente.
Pessoas "sem cera" têm a alma do tamanho de um bonde. Não acho que eu
seja a pessoa mais sincera do planeta. Eu minto de vez em quando. Tenho
inveja. Tenho defeitões. Mas eu sempre agi de acordo com meu coração,
meu instinto, meu amor pelas coisas. A gente precisa ter amor pelas
coisas. E raiva também, pois nem só de amor e sinceridade se vive.
A raiva serve para a gente colocar pra fora o que está desajeitado no
peito. Porque de vez em quando tudo vira bagunça. Precisamos arrumar,
colocar ordem no nosso galinheiro. Não é fácil nem rápido, mas é
necessário.
Eu nunca mais voltei lá, mas ainda questiono minha bipolaridade...
Acho até ela um pouco engraçadinha.
Ser mãe especial é ser bi tri quadripolar, é questão de adaptação, tudo
está bem, de repente não está, sobe e desce, esfria e esquenta,
emociona e cansa, mix de pensamentos negativos com sonhos improváveis,
esperanças que vem e vão.
Bom fim de semana!
Nenhum comentário:
Postar um comentário